Fábulas de todos os tempos
Fábulas portuguesas
A águia e a coruja
A coruja encontrou a águia, e disse-lhe:
– O águia, se vires uns passarinhos muito lindos em um ninho, com uns biquinhos muito bem feitos, olha lá não mos comas, que são os meus filhos.
A águia prometeu-lhe que os não comia; foi voando e encontrou numa árvore um ninho de coruja, e comeu as corujinhas. Quando a coruja chegou e viu que lhe tinham comigo os filhos, foi ter com a águia, muito aflita:
– O águia, tu foste-me falsa, porque prometeste que não me comias os meus filhinhos, e mataste-mos todos!
Diz a águia:
– Eu encontrei umas corujas pequenas num ninho, todas depenadas, sem bico, e com os olhos tapados, e comi-as; e como tu me disseste que os teus filhos eram muito lindos e tinham os biquinhos bem feitos entendi que não eram esses.
– Pois eram esses mesmos, disse a coruja.
– Pois então queixa-te de ti, que é que me enganaste com a tua cegueira.
(Porto)
Fábulas portuguesas
A barata e os filhos
A barata saiu debaixo de umas pedras com os filhos e disse-lhes, enquanto eles ainda pequenos estavam ao sol:
– Passeai, flores! Passeai, flores!
Daqui vem o ditado: «Quem o feio ama, bonito lhe parece.»
(Ilha de S. Miguel)
Fábulas portuguesas
A cega fátua
Já lhe ouvi ao Cura, um dia
Contar lá na sua arenga
De certa mulher, que havia,
Que nesse tempo, em que via,
Como a Raposa, era senga.
Eis senão que de repente
Mau ar a vista lhe veda;
Ficou cega em continente:
Porém foi tão levemente,
Que em vez de triste era leda.
Todos do trabalho seu
Se lhe mostravam pesantes;
Mas que resposta lhes deu?
O sol é que escureceu,
Que eu vejo melhor que dantes.
Tal lhes sucede a uns doutores,
Que, no que querem querer,
Julgam por faltas menores
Mudar o sol seus primores,
Que eles o seu parecer
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